segunda-feira, 11 de outubro de 2010

CINEMA – TROPA DE ELITE 2 [O filme]

Minha sensação ao sair do cinema após assistir a Tropa de Elite (1) em 2007 foi de total atordoamento. Sentimento semelhante ao que você teria se descobrisse que sua esposa ou seu melhor amigo esteve traindo ou roubando você, fazendo você de trouxa, pelos últimos 10 anos. E, pior, não se arrependem nem um pouco disso!

Mas, muita calma nesta hora... eu não sou masoquista, nem gostaria que minha mulher me traísse ou que meu melhor amigo me roubasse, mas se um e outro fizessem isso, eu preferia saber, pois só sabendo eu poderia deixar de ser um corno manso ou um topeira.

Minha expectativa pela chegada de Tropa de Elite 2 era: quem mais está me traindo e eu não sei?! Por mais que doa, eu quero saber.

Desta vez, armado de toda cautela, policiais e câmeras, o cineasta e diretor de Tropa 2, José Padilha, garantiu que o filme não vazasse – e não vazou. O filme, enquanto filme, é cuidadosamente bem feito. O roteiro é impecável, a atuação dos atores e figurantes é exemplar, a trilha sonora é perfeita. Afastado do Bope e separado da esposa, o Capitão Nascimento (protagonizado por Wagner Moura – em mais uma atuação primorosa) vai trabalhar na inteligência da secretaria de segurança do Rio. Ele está mais velho e mais maduro – e um pouco menos estressado – mas continua macho o suficiente para encarar quem tiver de ser encarado para defender (seja do jeito certo ou errado) seus ideais. Os acontecimentos de Tropa de Elite 2 ocorrem no tempo presente, portanto o tempo decorrido na trama de Tropa 1 e Tropa 2 é de 13 anos, pois Tropa 1 ocorre antes da visita do Papa João Paulo ao Brasil em 1997.

O filme é pesado, bruto e violento. A linguagem é chula. Não há tempo pra romance, nem para o deslumbre de paisagens paradisíacas do Rio de Janeiro. Tropa de Elite 2 é um filme político e absolutamente realista. Enquanto filme ele nos enche de orgulho por usar uma linguagem e realidade totalmente brasileiras e conseguir nos chocar o tanto quanto precisamos para acordar para a realidade desgraçante que nos rodeia, porém sem apelar ou forçar a barra por um instante sequer. Há até doses de humor, inseridas com precisão cirúrgica na narrativa, que servem de alívio momentâneo até que Padilha nos atinja com a próxima pancada.

Sugiro que você assista. Que você corra pro cinema mais próximo e não deixe de ver o filme. Compre seu ingresso antes. Se for ao Cinemark, use os quiosques de auto-atendimento para pagamento com cartão. Mas assista! E se por acaso não conseguir acompanhar toda a narrativa do filme, assista de novo. E, se como eu, chegar ao cinema às 18h, mas só conseguir ingresso para 23h45, compre mesmo assim, volte pra casa, alimente-se e volte. Você precisará de forças!

Agora vamos falar do que realmente interessa: a realidade que o filme retrata (continue a leitura no artigo abaixo).

TROPA DE ELITE 2 – A realidade por trás do filme

Logo no início do filme uma advertência que normalmente vemos só no final do filme, nos créditos: “Apesar das coincidências com a vida real, os personagens deste filme são fictícios”. É... o filme começa bem, deixando o espectador atento para a constatação da realidade que o filme espelha. E é isso que torna Tropa de Elite 2 ainda mais bombástico e desolador do que seu antecessor.

Se em Tropa de Elite 1, Padilha mostrou como os burguesinhos das classes média e alta dão sustentação ao problema do tráfico de drogas nos morros cariocas, em Tropa 2 ele vai responsabilizar Brasília, enquanto mãe de toda a política brasileira, como a produtora e mantenedora da corrupção que rouba e desola o povo brasileiro – que, diria eu, é totalmente conivente, na medida em que vota em quem o rouba.

Em entrevista concedida à Folha de São Paulo no dia 17 de setembro (página E8), Padilha conta que todo o seu trabalho é fruto de muita pesquisa: “‘Não tenho criatividade para inventar histórias do nada’, explica. ‘O que eu sei fazer é pesquisar, pesquisar, pesquisar, aí bolar uma história para representar o que vi e embutir uma crônica social.’” Confesso que eu preferia acreditar que Padilha é um louco, um psicopata, ou cheirado que tem uma imaginação fantástica. Mas, infelizmente, o que o filme mostra é a expressão mais crua e nua da realidade que nos cerca, nos violenta e nos manipula – sem que, muitas vezes, percebamos.

A violência explícita do filme não é nada, frente à violência moral à qual somos submetidos e subjugados por políticos corruptos e corruptores aos quais servimos, muitas vezes sem nos dar conta. Se você se sentir chocado com o linguajar do filme, deverá reservar espaço para se chocar muito mais com o descaso com o qual políticos e polícia tratam o povo ao qual deveriam servir.

Em meio a esse caos tupiniquim, destaca-se o herói, igualmente tupiniquim, o Capitão Nascimento. Esse herói totalmente verde e amarelo é o nosso ideal, ao mesmo tempo em que é a projeção de nós mesmos. Contraditório, violento, com atitudes das quais se envergonha é, paradoxalmente justo e incorruptível. O Capitão Nascimento é o grande herói nacional porque ele se tem a coragem de abrir a boca e apontar o dedo diante de todos os corruptos que se beneficiam do sistema (máquina governamental) para usufruir de benesses pessoais oprimindo, dominando, matando, calando, mentindo e fazendo o que bem entendem em benefício próprio. Ao abrir a boca e denunciar os corruptos, Nascimento mostra que está disposto a ir até as últimas consequências a fim de desmascarar o sistema, mesmo correndo riscos, mesmo colocando sua cabeça a prêmio. Sua atuação é heróica mas também denuncia nossa acomodação diante do que passa diante dos nossos olhos, pois simplesmente nos acostumamos com a miséria humana, seja esta vestida de pobreza ou de corrupção. Diante dela, calamo-nos e nos omitimos – e, portanto, somos coniventes e acabamos por contribuir para a mesma.

Almejamos o bem comum, a dignidade humana, o fim da corrupção – mas não fazemos muito para mudar o quadro. Nascimento faz, mesmo que isso lhe custe caro. Quem será o nosso herói nacional fora das telas?

Padilha tem uma visão científica da vida, de acordo com sua entrevista à Folha. Vê a política brasileira como resultado do processo evolutivo darwiniano, no qual as regras de seleção definem as características das pessoas selecionadas e, no Brasil, as regras favorecem os corruptos e desonestos. Sendo que não crê em Deus, tudo o que lhe resta é a visão científica da vida, com a qual percebe e desmascara a realidade com coragem e autenticidade. Seja em seu discurso pessoal, seja encarnado na brutalidade heróica do Capitão Nascimento, Padilha acaba por exercer uma função profética segundo os padrões da profecia bíblica do Antigo Testamento, que não fazia previsões, mas denunciava o erro, a injustiça e a inverdade, diante de quem quer que fosse. Assim, os profetas eram os anti-heróis que tinham a coragem de sair da acomodação. Sem querer, Padilha é um profeta contemporâneo – quem tem olhos e ouvidos, que veja e ouça.

sábado, 9 de outubro de 2010

Serra e Dilma convertidos (?)


Ontem teve início o horário político do segundo turno. Agora, Serra e Dilma não apenas ostentam sorrisos simpáticos em seus rostos sisudos, mas acabam de adotar o discurso religioso como forma de mostrar ao eleitorado mais conservador – ou quem sabe, à parcela do eleitorado religioso de Marina – que eles também são dá fé! Aleluia!!! O jornal Folha de São Paulo deste sábado (09/10) destaca a ênfase religiosa na abertura do horário político de ontem. Dilma agradece a Deus pela campanha, enquanto Serra mostra a família e lê a Bíblia para uma eleitora (Folha, página A4). E eu acredito em Papai Noel!

O que mais me impressiona não é a capacidade de adaptação de discurso da grande maioria dos políticos brasileiros quando precisam conquistar o nosso voto. O que realmente me impressiona é a mentalidade pequena do povo brasileiro que se deixa encantar e se derrete todo quando os políticos falam o que eles querem ouvir. Será que a decisão sobre quem é digno do meu voto ou... melhor ainda, sobre quem apresenta melhores condições de governar o nosso país pelos próximos quatro anos se resume à sua posição sobre a questão do aborto, da aprovação da lei contra a homofobia e a um discursinho cristão meia-boca só pra inglês ver? Não estou aqui defendendo o aborto, não. Mas muito mais importante do que a questão do aborto para a escolha de um candidato à presidência é saber o que cada um deles pretende realmente fazer para que pessoas não morram por falta de cuidados médicos e por aquelas que não morrem, mas que também não vivem toda a potencialidade de seres humanos e cidadãos capazes de pensar e agir criticamente porque não têm acesso à educação de qualidade. Educação esta, que não somente ensine a escrever o nome, mas mostre os caminhos que levem à capacidade autônoma de tomar decisões.

Enquanto isso, religiosos piedosos e sinceros, porém ingênuos, correm o risco de se encantar com o discurso maquiado de fé cristã que vêm de candidatos que não têm, em sua base, a questão religiosa como algo central. “Meu Deus do Céu”, isso sim é que é tomar o nome de Deus em vão! Pegá-Lo como cabo eleitoral. Associar-se a Ele para garantir votos! Neste ponto, mais uma vez exalto minha admiração por Marina Silva, pois tendo ela a questão religiosa cristã como fundamental e básica em sua formação e prática, não se utilizou dela como elemento de manipulação e conquista do apoio do eleitorado cristão ou de seus simpatizantes.

Tomara que o eleitor religioso aprenda a votar de olhos e ouvidos bem abertos e, assim, mostre para os nossos candidatos à presidência, que o que eles querem ver e ouvir não é um discurso religioso “marketado” de última hora e, sim, propostas que garantam a dignidade ao ser humano, que produzam resultados visíveis na saúde, na educação, na segurança, no meio ambiente e na justiça social. Essas ações, sim, uma vez acontecendo demonstrarão o real compromisso com os valores da dignidade da vida e se aproximarão da prática cristã, sem que seja preciso maquiar o discurso com pó de arroz religioso por este ou por aquele candidato. Já dizia Jesus: é pelos frutos que a gente conhece a árvore – e eu ousaria acrescentar – e não pelo barulho que ela faz!

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Eu voltei...

...agora pra ficar! Eu voltei pro blog que eu deixei... (Valeu pela inspiração, RC!). É isso aí, pessoal. Ao som do rei RC, declaro que, depois de um longo e tenebroso inverno, eu voltei a escrever no meu blog.

Outro dia estava jantando com meus amigos Jorge e Ana. Comemos comida chinesa e, ao final, biscoitinhos da sorte! Sorte sua se você não engolir o papelzinho com a mensagem que vem dentro do biscoito! Pois bem, a minha mensagem da sorte dizia: “A inspiração vem da transpiração”. Hmmm já não se fazem mais biscoitinhos da sorte como antigamente... Isso não me pareceu com um provérbio chinês, nem nada. Mas, pensando bem, azar o meu se não começasse a transpirar pra ver se a inspiração pra escrever voltava. Bom, considerando que o jantar já tem mais de uma semana, acho que demorou pra eu decidir começar a transpirar pra ver se a inspiração chega.

Mas não é só a transpiração que anima a inspiração. As pessoas nos inspiram ainda mais. Sendo assim, agradeço, de coração, às pessoas que entraram aqui durante o tempo da minha ausência, leram e fizeram comentários (em geral, pessoalmente) me incentivando a continuar escrevendo. Isso é que verdadeiramente me inspira. Sorte minha ter amigos assim! Sorte? Não! Privilégio e presente do Céu! Muito obrigado!!!

Então, leia meu comentário na postagem abaixo sobre o filme "Comer, Rezar, Amar".

Cinema: COMER, REZAR, AMAR


Após um cochilo devido ao sono irresistível durante o JN, acordei todo torto no sofá. Enquanto o cérebro tentava dar comandos ao meu corpo para que este se levantasse, pensei: vou ao cinema! Saí voando para pegar a sessão das 22h10 no cinema mais próximo e, apesar das recomendações contrárias de um amigo que leu o livro (ou melhor, leu menos da metade dele) e detestou, fui ver a Julia Roberts em Comer, Rezar, Amar (Eat, Pray, Love – EUA, 2010).

Ao comprar o ingresso, fiz minha pergunta clássica: “A que horas termina o filme?” E, para meu assombro, a moça respondeu: “Quinze pra uma!”. Entenderam? O filme terminaria à 0h45! Quase desisti! Mas como já estava lá, dirigi-me resoluto à sala escura e sentei-me num lugar que não era o que eu havia comprado! Ah, se alguém viesse eu me levantaria humildemente reconhecendo minha atitude indevida (mas ninguém veio reclamar o seu lugar na fileira M. Ou era N?!). Não importa! Após quase 20 minutos de comerciais e trailers começa o filme. “Será que eu não deveria ter ficado em casa” – pensava. “Como é que eu vou aguentar quase três horas se o filme for um porre?!”

Eu não li o livro. Fui pro cinema apenas com o comentário de quem não queria vê-lo por nada deste mundo, portanto, fui esperando pelo pior. E o resultado final foi satisfatório, para um fim de noite de quinta! A Julia protagoniza a escritora norte-americana Elizabeth Gilbert, que após um divórcio difícil decide sair pelo mundo num ano sabático a procura de si mesma. Apesar dos inevitáveis clichês americanos e de uma história um tanto previsível, o filme vale pelas viagens à Itália, Índia e Indonésia. Em busca pelo resgate do prazer e sentido das pequenas coisas, Liz nos leva a cenas de dar água na boca com os pratos suculentos de comida italiana e ao seu deleite com a sonoridade da língua. Esta é a parte do “comer”. Intrigante o momento em que tenta definir as cidades com uma só palavra e, depois, tenta se definir com uma só palavra. Como você se definiria em uma só palavra?!

De barriga cheia, ela vai para a Índia, onde tem sua busca pela espiritualidade. Ali, defronta-se com as angústias da sua alma e sua busca por Deus. Busca esta iniciada na primeira oração de sua vida (logo no início do filme) quando se encontra sem saber o que fazer com seu casamento. Enquanto busca o contato com o Transcendente, ela vai percebendo seus erros, culpas e tem um encontro muito interessante com outro americano que perdera tudo e tentava ansiosamente perdoar-se. Esta é a parte do “rezar”. O que o/a impede de seguir adiante? Em que lugar Deus está no mover louco da sua vida?

Toda espiritualizada, ela chega a Bali, na Indonésia. Lá, encontra um guru simpático e desdentado que lhe ajuda com conselhos simples e sábios. Mostra-lhe a importância de uma vida equilibrada e como uma certa dose de desequilíbrio é importante para manter-se sadiamente equilibrada. Conhece Felipe, um brasileiro (ahahaha – Javier Bardem, ator espanhol (de “Onde os fracos não têm vez”), que tenta falar “portuguêissshh” com saque carioca – “mermão, super sinisshhhtro!”). Você sabia que no Brasil, pais e filhos costumam se cumprimentar com um selinho? É!! Com uma bicoca na boca?! Pois é, estou ainda tentando entender de onde foi que o diretor do filme tirou essa idéia de jerico. Em Bali você vai ouvir bossa nova cantada em legítimo português! Esta é a parte do “amar”. O que seria para você, viver uma vida equilibrada?

Se você for assistir e não gostar de quase nada, garanto que de duas coisas você vai gostar: do sorriso bangela do Ketut (o guru indonésio) e dos suculentos pratos de massa italiana. Ah, e tem outra coisa de que você vai gostar. Uma dica preciosa da cultura italiana: Il dolce far niente!

quinta-feira, 18 de março de 2010

Pedras no caminho


Andando pelo caminho encontro uma pedra.
Uma pedra no caminho.
No meu caminho.
No caminho que deveria fluir livre, sem obstáculos, nem impedimentos.
Mas há uma pedra. A pedra no caminho.
No meu caminho.

Andando pelo caminho sinto uma pedra.
Ela não está no caminho.
Mas dificulta o meu caminhar. É intrusa em meu sapato.
No meu sapato.
E me dificulta.
A pedra que eu sinto ao andar pelo caminho.
O meu caminho.

Andando pelo caminho avisto uma pedra.
Uma pedra no caminho.
No meu caminho.
E decido sentar-me.
Uma pedra que transformo em banco de onde observo outras pedras que modificam meu curso pelo caminho.
Pelo meu caminho.

Não sou bom de poesia! Prefiro a prosa. Prefiro o fluir do texto sem ter de me preocupar muito com métrica, rima, regras e, principalmente, com a criatividade e coerência poética. Deixo a poesia para os poetas. Por outro lado, penso que a vida é um poema. É poema que vai sendo escrito e recitado o tempo todo.

Estava na praia. Perambulava errante e despreocupado. Já era noite em Santos. Chego ao Emissário, uma plataforma que se projeta por quatrocentos metros desde a praia rumo ao mar. Estava repleto de gente: famílias andando, adolescentes fazendo acrobacias na pista de skate, outros namorando, grupos de jovens conversando, enfim, havia uma grande agitação no local. O Emissário é rodeado por pedras. Encontrei uma que fosse confortável e me assentei. De onde eu estava podia observar o mar que se estendia desde aquele ponto, ao lado da ilhota Urubuqueçaba, que fica bem ao lado do Emissário, até a Ilha Porchat, lá longe. A praia estava iluminada. Mas o que realmente me chamava a atenção era o movimento das águas e da maré. Poucas horas atrás eu andara perto da ilhota que podia ser alcançada a pé, pela areia. Agora ela já estava a mais de 100 metros distante da areia seca, pois as águas já haviam avançado bastante em seu movimento de vai e vem. Vai e vem, vai e vem, vai e vem... Um ritmo gracioso, como se fosse uma dança, ou o respirar de um corpo autônomo que decide expandir-se e abraçar toda a areia que puder alcançar. As ondas iam se formando e quebravam na praia. Lembrei-me de que, quando criança, soube da inauguração da primeira piscina com ondas do Brasil. Ficava em Brasília e eu sonhava conhecer aquilo. Imagine! Uma piscina com ondas!!! Depois de grande, finalmente conheci uma piscina com ondas num parque aquático. Não era o de Brasília, mas tinha ondas. E quão grande foi o meu tédio depois de alguns minutos, ao perceber que todas as ondas eram exatamente iguais e vinham exatamente na mesma freqüência em intervalos absolutamente regulares e previsíveis, categorizando que aquilo não era nem mar, nem piscina! Faltava areia no pé, sal na água e, principalmente a beleza da suposta aleatoriedade e criatividade das ondas do mar. Imprevisíveis em sua exatidão. Tal como a vida!

Ah, a vida! Vida esta que me levou a sentar numa das muitas pedras, contemplando o mar a dançar. Fico fascinado pelo barulho da água. Gosto dos sons que a água produz. Não havia apenas o som das ondas que quebravam na praia, havia mais. As ondas em formação iam ferindo as pedras e produzindo novos sons de água a cada instante, com diversas intensidades e ritmos. De repente me dei conta de que aqueles sons só eram possíveis graças às pedras. Ao bater nas pedras o mar entoava suas canções, fazendo música para acompanhar sua dança. Se eu fosse um dos compositores dos Salmos da antigüidade, escreveria que os mares cantavam em louvor ao Criador! Na verdade, quem se encontrava assim era eu mesmo, tamanha a beleza e singularidade daquele momento. No vai e vem do volume crescente de águas da noite, batendo nas pedras, fazendo música para acompanhar a dança das águas, presenteando-me com seu espetáculo exclusivo. Na cidade litorânea de Zadar, na Croácia, um trabalho arquitetônico-musical fantástico soube aproveitar as ondas e as pedras para construir um órgão que é tocado pelo mar. Ao atingir os degraus de pedra a água produz sons aleatórios e magníficos que são ouvidos por orifícios, como se fosse um órgão de tubos!

Quantas não são as vezes em que encontramos pedras em nosso caminho. Algumas impossíveis de serem removidas. Deparamo-nos com elas. Ferimo-nos. Elas nos atrapalham, causam incômodo. Gostaríamos de não encontrá-las. Mas elas surgem. Sempre. Contudo, se não fossem as pedras, o mar não tocaria suas melodias. Dançaria mudo. Preencheria de beleza os meus olhos, mas não os meus ouvidos. Teria de contar apenas com as ondas que eventualmente quebram na praia. Mas há dias em que mesmo estas são escassas e débeis. As pedras no caminho do mar faziam toda a diferença. Dos obstáculos o mar tirou sons, melodias. E mais! Não se limitando à beleza das ondas, ao bater nas pedras as águas faziam extraordinárias evoluções de espuma branca, explosões de água em forma de boniteza ferindo as pedras que não se moveriam de lá. As pedras no caminho do mar lhe acrescentaram melodias e gestos em sua dança graciosa.

Há pedras em nosso caminho que não podem ser removidas. Estas nos desafiam a transformá-las de inimigas em aliadas. Já que não sairão, elas podem gerar o novo em nós. Podem nos fazer cantar, podem extrair sons e expressões de beleza de nossos movimentos. Tal como o movimento do mar beijando as pedras, podemos deixar que elas nos transformem em algo melhor, mais belo, mais rítmico, mais interessante.Tal como o mar que se torna ainda mais rico e formoso ao enfrentar as pedras que lhe obstruem o avanço rumo à praia. Na verdade, são as pedras do caminho que nos fazem reagir, crescer, modificar, criar, amadurecer e produzir beleza. Beleza que, muitas vezes, nasce da dor, mas nem por isso, torna-se triste.

No meu caminho há uma pedra.
E eu quero me assentar sobre ela, deixar o mar bater, cantar, dançar, extraindo sons e beleza. Beleza que nasce da pedra.
Beleza para a vida.
Pra viver de forma bela.
Graças à pedra.
No meu caminho.


(Para conhecer o orgão marítimo de Zadar, copie o link
e cole em seu navegador
www.youtube.com/watch?v=pQ9qX8lcaBQ&feature=related )

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

A culpa é de Deus?


Sabe como são as conversas de elevador, não é?!

— Calor, né?!
— Nossa, nem me fale... Será que chove?
— Hmmm, acho que já está ameaçando chuva... opa, meu andar! Até logo.

Já reparou como invariavelmente todos os usuários de elevador se convertem em especialistas em meteorologia?! Pois, outro dia, antes de iniciar uma reunião na qual eu estava participando “meio que de gaiato”, alguém saiu com uma dessas típicas conversas de elevador (pra matar o tempo enquanto não se tem nada de relevante para falar!). Mas dessa vez não estávamos no elevador e o assunto era um pouco mais profundo: o terremoto do Haiti. Naquela semana um novo tremor de terra havia acontecido e, ao entrar na sala de reuniões uma das três pessoas presentes disse:

— Vocês viram? Mais um tremor de terra no Haiti. É nessas horas que eu me pergunto: será que Deus realmente existe?

Uau!! Isso é mais empolgante do que conversar sobre a precipitação pluviométrica da cidade de São Paulo! Veja que interessante. Por trás da pergunta há uma suspeita: se Deus existisse mesmo, ele não permitiria que tal tragédia se abatesse sobre um país já tão ferrado quanto o Haiti, afinal, eles já têm tantos problemas. Por que será que Deus não fez nada para impedir tal destruição?! Bom, encontrei uma boa resposta. E não foi nem na Bíblia, nem em nenhum livro religioso.

A Folha de São Paulo do dia 24 de janeiro trouxe duas matérias bastante relevantes relacionadas a esse tema. Uma delas (página A17) traz as avaliações de cinco acadêmicos e intelectuais haitianos sobre a situação, passada e atual, do Haiti. São dois historiadores, dois sociólogos e um antropólogo. Em primeiro lugar, afirmam que tal catástrofe já havia sido prevista por vários cientistas que propuseram medidas simples e exeqüíveis para preparar a população. Mas estas nunca foram tomadas. Desde coisas simples como ensinar as crianças a se posicionar debaixo de um batente de porta ao perceberem um tremor, até as mais complexas como construções resistentes a tremores nunca foram realizadas. Bilhões de dólares foram gastos nos últimos 15 anos sem gerar resultados significativos. A ONU gasta US$ 600 milhões por ano com o país e tal soma é engolida pela inércia, corrupção e incompetência. Tal catástrofe só veio completar a destruição generalizada iniciada no país há 50 anos pela incompetência das autoridades locais, dizem os cinco lúcidos acadêmicos haitianos.

Nesta mesma edição do jornal, a geóloga americana Lisa Grant, especialista em terremotos, é entrevistada (página A 19). Ela diz sentir-se bastante triste com a tragédia que se abateu sobre o Haiti, mas não surpresa. Segundo Lisa, não dá pra saber quando um terremoto vai acontecer, mas é possível saber com boa precisão onde eles acontecerão e qual a sua probabilidade. O problema é que esses dados são ignorados pelas pessoas, inclusive por certas autoridades. O Haiti tinha os dados, mas estes não foram bem utilizados. As pessoas preferem não pensar a respeito porque acham que se não pensarem, não vai acontecer, explica a doutora Grant. Se os principais edifícios do Haiti, como hospitais e o palácio presidencial, tivessem sido construídos com base nas normas de segurança, essas edificações não teriam sucumbido ao terremoto. Afirma ainda que em 1992 houve um terremoto similar ao do Haiti na Califórnia e ninguém morreu porque as construções eram seguras.

Realmente Deus tem de ter costas largas! Afinal, ele é todo poderoso e poderia ter impedido tanta morte e destruição, não poderia? Bem, acho que o problema não é dar uma resposta a esta pergunta mas, sim, ter a coragem de fazer a pergunta certa: Por que é que nós não fazemos aquilo que devemos fazer a fim de evitar que o inevitável cause mais danos do que o necessário?

É engraçado como o ser humano sempre tenta achar um culpado que esteja fora e longe de si próprio, a quem ele identifica como estando contra si mesmo. Assim, Deus deve ser o culpado, especialmente para aqueles que têm alguma desconfiança da suposta bondade divina quando confrontada com a miséria humana. Por isso, se Deus é bom, por que há doenças? Por que há fome da África? Por que há mortes no Haiti? E assim, parte da humanidade transfere sua responsabilidade para as costas eternamente largas de Deus, eximindo seus pares (os humanos) de qualquer responsabilidade.

Mas, e o que dizer dos cristãos?! Há entre estes, muitos que jamais culpariam a Deus, porque crêem em sua bondade. Mas comumente têm a mesma atitude dos que culpam a Deus, só que transferindo toda a culpa ao Diabo. “Ah, isso é coisa do Diabo!”. Assim, tudo de ruim que acontece em suas vidas tem uma origem diabólica em alguma instância, de modo que estes são meras vítimas da semi-infinita maldade que tenta roubar-lhes a tranqüilidade, eximindo-se também, de qualquer responsabilidade, participação, desatenção ou até, desconsiderando o fato de que viver representa a soma de alegrias e perigos que envolvem, igualmente, todas as pessoas.

Talvez não houvesse nada que eu, ou você que lê este artigo, pudéssemos fazer para evitar a destruição de Porto Príncipe. Mas as atitudes diante do terremoto ocorrido em Porto Príncipe, nesse sentido, são apenas um exemplo da maneira como interpretamos nossa participação nos eventos da vida: eternas vítimas de um deus inoperante ou de um diabo persistente. Ambos fazendo de nós marionetes em suas mãos imprevisíveis e esmagadoras. Quanta infantilidade para adultos crescidos!

Dessa forma, de um lado temos um grupo que culpa a Deus pelos infortúnios da raça humana e outro grupo que culpa o Diabo por tudo aquilo que não deveria acontecer. Alguns preferem culpar Deus ao invés de analisar fatos e perceber que a corrupção, ganância e injustiça humanas produzem muito mais mortes e maldade do que estamos dispostos a reconhecer. Ou ainda, outros preferem simplificar e infantilizar a vida, eximindo os homens de toda a sua responsabilidade pelo mal no mundo transferindo-o sempre à personificação deste mal chamada de Diabo. E enquanto crentes e descrentes procuram um culpado sobrenatural para os problemas da ilha caribenha (bem como de sua insegura existência), cinco acadêmicos haitianos e uma cientista americana parecem ter uma explicação bem mais plausível para isso: a passividade humana associada à corrupção e à injustiça.

E apesar do nosso amigo lá da conversa de elevador em plena reunião querer colocar a culpa do terremoto em Deus, os próprios acadêmicos haitianos concluem a matéria dizendo que se a boa vontade de seus amigos da Republica Dominicana, do Brasil e do México falhar, eles ainda esperam contar com a ajuda de Deus!

quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

Correr correndo (Parte II)


Correr cansa. Correr cansa mesmo quando você não corre. E tem muita gente que corre parada. Corre porque tem pressa, está tomada pela urgência, enlouquecida pela rapidez, alucinada pelos prazos, pelo tempo, pelas obrigações ou pelo simples costume de fazer tudo correndo – mesmo que esteja sentado.

Já reparou como vivemos apressados? Andamos com pressa, comemos com pressa, vamos ao cinema com pressa, vamos desfrutar do lazer com pressa, beijamos com pressa, amamos com pressa, fazemos tudo com pressa. Até corremos com pressa!

Ontem eu fui correr no parque. Mas ontem tomei uma decisão: vou imobilizar a pressa. Amarreia-a numa árvore e deixei-a agonizando até que ela sucumbisse à inexistência. Dei uma volta de bike, outra correndo (daquele jeito que você já sabe!). Correndo, andando, correndo, andando, correndo, andando. E em meio a tudo isso, ia olhando os rostos, o andar das pessoas, os movimentos dos braços, pernas, mãos, troncos. Tem gente que corre de um jeito engraçado (ainda bem que eu não passo na frente de nenhum espelho, nem das janelas do Museu Afro ou da Bienal - mas se passasse morreria de rir daquele cara que fica olhando para mim toda vez que eu olho para ele, sujeitinho abusado!). Após cinqüenta (olha o trema aí!!! e quem foi que disse que ele era inútil!?) minutos resolvi pegar minha bike e me dirigir como quem pedala num domingo à tarde até o lago. Encontrei um banco vazio, liguei meu iPod (não, meu tocador de mp3 – afinal a Apple não está me dando um centavo para fazer esse merchandising)... Como eu dizia, peguei meu (ah... tocador de mp3 é demais pra mim!)... Voltando, então... Encontrei um banco vazio, coloquei os fones de ouvido, “botei” uma música pra tocar e me deitei no banco. Meus olhos contemplavam o céu cinzento do fim de tarde do horário de verão. Eram 19h53! As pequenas folhas da árvore logo na parte superior do meu campo visual bailavam leves no ritmo gostoso do vento. Os tons, apesar de cinzentos no céu, eram belos. De vez em quando um pássaro voava lá no alto. A música me distraía dos sons das pessoas que passavam correndo, falando, frenéticas ao meu lado. Não as via, nem as ouvia. Ouvia a música. Não apenas a musica que os fones despejavam nos meus ouvidos, mas a música que o vento tocava em meu rosto. Viro para o lado e vejo o lago. Está cinzento, combinando com o céu. Nas árvores, algumas aves já se recolheram e, empoleiradas, esperam o cair da noite e o silenciar dos sons. Em terra firme, próximos à água, patos se reúnem em assembléia para tomar as decisões concernentes aos próximos acontecimentos. E eu nem tenho idéia do que discutem. É coisa de pato! E em negócio de pato, eu não meto o bico. Aos poucos fui me enchendo de paz. A música contribuía para a sensação de alegria. Que privilégio pensar que a poucos metros dali há trânsito, buzinas, pressa, o ritmo acelerado da cidade que não pára. Mas eu estava parado. Parado junto ao lago, à árvore, ao céu, aos patos e pássaros. Parado no tempo. Não estava mais correndo. Consegui parar. Como é bom parar. Parar é preciso. Aquele momento era como oásis em meio ao caos. Aquele momento não foi propiciado por nenhum outro fator exceto o freio que acionei contrariando meu acelerador interno. Pare! Chega de pressa! Chega de correr correndo. Na pressa de ir embora, quase perco o espetáculo que estava passando à beira do lago. Nada demais. Apenas a vida da maneira como deveria ser.

Penso que não deveríamos correr tanto. Não é apenas a cidade que nos desumaniza. Somos nós mesmos. Entramos numa corrida contra o tempo, que no fundo é uma corrida contra nós mesmos. E desperdiçamos o belo, desperdiçamos o tempo, desperdiçamos a vida, tentando viver não como quem vive, mas como quem corre. Não só como quem corre, mas como quem não pára nunca!

Agora me assento e contemplo os prédios ao longe fazendo de conta que não é São Paulo. É qualquer outro lugar. É interior. É vida pacata. É a possibilidade de re-viver sem que o tempo seja um algoz a me perseguir. Levanto-me para observar a reunião dos patos e logo noto uma imensidão de pequenas florzinhas em forma de lampadinhas de natal vermelhas e brancas. A vegetação se estende ostentando aquelas pequenas lâmpadas criadas pela natureza, vermelhas e brancas, pequenas e finas, mas fortes! Lindas. Dou um passo em direção à pista e quem avisto?! Um beija-flor. Ele também estava encantado com as pequenas flores em forma de lampadinhas de natal. E beija a muitas delas em seu vôo incomparável. Fiquei ali, completamente tomado por aquele instante. Em meio à cidade, uma explosão de natureza, de vida e de beleza, pronta para ser vista, pronta para ser celebrada e percebida por quem tem o dom de parar! Após alguns beijos o beija-flor finalmente se vai, permitindo assim minha despedida daquele instante eterno. Internamente, eu ria. Era como se eu e a o Criador houvéssemos conspirado juntos criando aquele momento. Senti-me presenteado. Subi na magrela e deixei aquele quadro pintado em minha memória, eternizado nas fotografias da minha lembrança, clicados num instante de prazer e privilégio.

Aprendi que quem corre correndo não chega a lugar algum. É preciso parar. Correr também é preciso. Mas é preciso parar e contemplar a vida que corre devagar, em seu próprio ritmo, ocultando belezas sem fim dos que não tem tempo para parar de correr. Mas que se esmera em revelar aos audaciosos que param a riqueza de sua beleza escondida no tempo, descortinada a quem se atreve a parar e contemplar o fluir da vida.

São 20h02 e nem sequer 10 minutos se passaram. E eu achei que havia visitado a eternidade...

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

Correr correndo (Parte I)


Dizem que paulistano é estressado. Tá sempre correndo. Acho que é verdade. Quando eu morava em Londrina ficava inconformado com a tranqüilidade dos automóveis diante do semáforo (bom, eu ia dizer “farol”, mas vai que tem algum carioca lendo isso...). Eles simplesmente não preenchiam todas as lacunas possíveis na rua, formando apenas duas fileiras de automóveis em vez de três! Isso me deixava louco! Então, lá ia eu, “esperto”, “sabido”, paulistano metido a besta, costurar daqui e de lá, até me colocar na "pole position" no grid de largada do próximo farol, quer dizer, semáforo (ou sinaleiro, em londrinês!!) verde!

Tudo lá era tão perto, mas eu não aproveitava. Havia (e ainda há!) um lago maravilhoso na cidade: o Igapó. Que nem era tão longe de casa, mas acho que eu caminhei pouco mais de duas vezes pelo lago. Ao deixar a cidade, 13 anos atrás, pensei: “Eu não soube aproveitar o lago... vou sentir falta”.

É incrível como desperdiçamos o belo em troca da urgência. Deixamo-nos ser sempre tão pressionados pelo tempo, que não notamos o belo onde ele se apresenta, de maneira inusitada. Pois bem, o médico me disse que eu tinha de fazer exercícios físicos. E entre uma lesãozinha aqui, uma preguicinha acolá, nos últimos anos tenho me dedicado a buscar a disciplina necessária para fazer exercícios regulares. E lá vou eu, correr no parque. Correr, aqui, significa: correr devagar alternando com andar depressa! Correr também pode significar uma ou duas – ou três – voltas de bike pelo lago. Gosto do Ibirapuera. Tempos atrás estava eu em Águas de Lindóia. Fora a um congresso e, no fim da tarde, antes do jantar, fui caminhar pela praça central da cidade, projetada pelo Burle. Sabe, o Burle?! O Burle Max! Paisagista de mão cheia ele. Já morreu. Mas eternizou-se nas praças e projetos paisagísticos que criou. Fez uma praça linda em Águas de Lindóia. Fiquei encantado com aquilo: lagos, grama, árvores, patos, crianças, adultos, gente se exercitando, fim de tarde, pôr do sol, coisa típica de interior. Por alguns minutos eu fiz de conta que morava lá. No dia seguinte, marquei encontro com a praça de novo. E lá estava ela, me esperando no horário marcado, linda, brilhante, cheia de vida. E eu andando por suas pistas sinuosas e graciosas. Ao chegar o último dia do congresso senti saudade da praça e fui me despedir. Imaginei como seria bom ter aquilo na cidade onde moro, São Paulo. Imaginei-me desfrutando da mesma beleza e paz que aquela praça me trazia, onde podia caminhar, pensar, conversar com o Criador da Beleza, refletir, relaxar, ficar feliz, tudo de graça e ao mesmo tempo. Mas eu estava indo embora e não tinha como trazer a praça comigo. Trouxe uma foto! Fiz um filme. Mas não era a mesma coisa!

Depois de um tempo fui andar no Ibirapuera. E quem estava lá?! A praça do Burle! Claro!! Havia lagos, grama, árvores, patos, crianças, adultos, gente se exercitando, fim de tarde e pôr de sol, coisa típica de interi... Quê?! Não pode ser!!! Eu não estou no interior, estou na mega-giga-tera-lópole, na paulicéia louca. Aqui não é Águas de Lindóia. Foi aí que eu percebi, que meus olhos se abriram e eu enxerguei. A praça estava ali. Esteve sempre ali, mas eu não notava, não via, e não usufruía. Fiquei feliz! Finalmente tinha minha praça na minha própria cidade! Que bom! Não vou precisar mais me mudar pra Águas de Lindóia pra encontrar a praça (e até parece que eu me mudaria!!!). Então, decidi aproveitar o Ibirapuera e fazer meus exercícios lá. Correr! Lembra, né?! Correr significa andar depressa, alternando com correr devagar. E lá vou eu. Corro, ando, corro, ando, corro, ando. Quando estou passando em frente o lago, olho o lago e digo: “Boa tarde! Hoje estou com pressa, não vou poder conversar! Preciso correr!!”. E sigo correndo. Preciso correr, afinal tenho muito a fazer. E tenho que correr. E corro. Às vezes, corro porque estou com pressa, então fica melhor correr do que andar. E lá se vai o lago. Se o tempo é exíguo, eu o vejo só uma vez – correndo, claro! Se tenho mais tempo, nos encontramos duas vezes – correndo. Porque eu corro. Mas corro correndo. Corro como quem precisa cumprir o exercício. E há tanto para fazer. Não posso parar pra fazer de conta que estou em Águas de Lindóia no parque do Burle. Estou no Ibira, e preciso terminar essa volta correndo, quer andando, pedalando ou correndo mesmo, preciso correr. Que bom que tem o parque. Mas eu preciso correr. Preciso correr correndo...

domingo, 10 de janeiro de 2010

Diversão virtual: Pêndulo de Newton


Clique em qualquer uma das bolinhas com o mouse, arraste e solte. Veja que legal e divirta-se à vontade!

A terceira Lei de Newton diz: "Para cada ação há sempre uma reação oposta e de igual intensidade".

CINEMA: Hanami – Cerejeiras em Flor


O que esperar de um filme alemão, rodado na Alemanha e no Japão, falado em alemão, às vezes em japonês, outras em inglês – com sotaque alemão – ou inglês – com sotaque japonês! Was ist das?!!? Pois em meio a toda essa aparente improbabilidade “Hanami - Cerejeiras em Flor” (Título original: “Kirschblüten – Hanami”, Alemanha, 2008) é um filme profundo, sensível e surpreendente. Toca a alma.

Trudi é uma esposa dedicada, de ascendência japonesa, casada com Rudi há mais de 30 anos. Logo no início do filme (aliás, é assim que o filme começa) ela descobre que seu marido tem uma doença que lhe roubará a vida em pouco tempo. Os médicos sugerem que ela aproveite os últimos dias de vida com ele fazendo algo inusitado, quem sabe uma viagem... Quem sabe ir ao Japão e visitar o filho mais moço, Karl, que mora lá há cinco anos e nunca recebeu uma visita... Quem sabe ir ver os outros dois filhos que moram em Berlim. Quem sabe ela divide essa informação terrível com um dos seus filhos... Assim, Trudi começa viver o dilema de tentar convencer o marido (que é extremamente sistemático) a curtir um pouco a vida que lhe resta sem ter de contar a ele que seu fim se aproxima. Consegue convencê-lo a ir a Berlim, mas no fundo ela queria mesmo era ir para o Japão. Acalentava o sonho de conhecer o monte Fuji e sempre fora apaixonada pelo Butô, dança típica japonesa, que teve de abandonar por amor ao seu marido que não gostava que ela praticasse esse tipo de dança. Acabam indo para Berlim visitar os dois filhos mais velhos que não têm tempo nem muita disposição para estar com eles. E assim vai se desenrolando uma estória belíssima que levanta vários temas: o distanciamento dos filhos, o envelhecimento dos pais, a falta de tempo, as oportunidades perdidas, a seriedade inútil com que se vive a vida, as palavras não ditas, os sentimentos não expressos, bem como as palavras ditas que jamais deveriam ter sido pronunciadas. Mas, por outro lado, o filme também trata da ternura desinteressada, da dor que aproxima pessoas, das dores guardadas, da convivência com quem se ama sem se conhecer bem, do valor que damos ou negamos a quem amamos, do quanto podemos sufocar o outro ainda que com nosso amor que exige a sua despersonalização.

Assim, esquecemo-nos que o outro, seja ele quem for, tem seu valor, seus sonhos e sua própria personalidade, a despeito de quanto seja ou não amado por nós. Esquecemo-nos de que a vida não oferece garantias. Ela é tão inesperada quanto o vento que não esperávamos que soprasse.

“Hanami - Cerejeiras em flor” é um filme que fala da morte da vida; não apenas da expectativa da morte, mas de deixar que coisas que poderiam estar vivas, morram dentro de nós. Fala de olhos que são capazes de ver o outro sem enxergá-lo em sua inteireza, ainda que amando. Fala do amor que pode ser aperfeiçoado com o tempo e a dor. Fala de generosidade, amizade, cordialidade e obstinação.

Deixe-se levar pela sonoridade de outras línguas, pela fotografia belíssima, por paisagens de outros países e por outras culturas numa viagem para dentro do seu próprio ser e saia do cinema disposto a amar e enxergar as pessoas que estão ao seu redor, enquanto isso for possível!

Uma dica: No Shopping Bourbon (na Pompéia) a sala 10 (não sei se as outras também tem...) possui um sofá enorme após a última fileira de cadeiras de onde você pode assistir ao filme como se estivesse em sua própria sala de estar. Experimente!

E bom filme!

quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

Apagaram a árvore de natal...


Hoje à noite, enquanto eu dirigia pela avenida 23 de Maio fiquei procurando a Árvore do Ibirapuera mas... não a encontrei. Já estava apagada. Poxa, que triste! Acabou o natal! É dia 6 de janeiro, dia de desmontar a árvore e desligar as luzes natalinas que brilharam desde o início de dezembro.

Fiquei a pensar, ora pois... Será que não daria pra prorrogar um pouco mais a Árvore do Ibira? Tava tão bonita! Eu também queria prorrogar as lâmpadas dispostas na minha janela que, quando acesas, à noite, enchem a sala de um ar natalino, de uma alegria pueril. E a árvore, então! Não a do Ibirapuera, que é enorme, mas a minha, que é minúscula, mas cheia de luzes que piscam em diversas combinações aleatórias banhando a sala de surpresas coloridas de encher os olhos. Eu gosto do natal! Além do significado religioso e espiritual, o natal me remete à inocência infantil. Por um pouco de tempo, volto à meninice, ao tempo em que os problemas não existiam, em que tudo era mágico e encantado. A atmosfera, o sabor, o clima de natal me faz bem. Mas, tudo isso acabou. Apagaram a árvore do Ibirapuera. E logo terei de apagar a minha. Porém, ao chegar em casa rebelei-me. E contra todas as convenções, acendi as luzinhas da janela. E acabo de ligar as luzes da árvore de natal. Oras bolas, não quero que o natal termine.

Peraí, isso já está parecendo birra de criança mal-criada. “O natal acabou, menino! Desliga essa árvore!”, poderia ouvir alguém dizer. Mas não ouço, a não ser dentro de mim mesmo, de onde vem a constatação: por quanto tempo resistirei? Por quanto tempo manterei enfeites anacrônicos descompassados com o momento?

Fui, então, conversar com o Dr. Google! Ah, esse cara é sabido! Ele tem resposta pra tudo. Com ele obtive informações interessantes acerca do dia de hoje (que para você que lê talvez seja amanhã, ou depois de amanhã, não importa... mas eu escrevo hoje! Meu dia 6 só vai terminar quando eu for dormir, ainda que já seja, oficialmente 7!). O dia de Reis é uma data cada vez menos comemorada no Brasil, exceto no interior e em vários pontos do Nordeste, que mantêm vivas as tradições recebidas dos europeus e adaptadas à cultura local. Lá se comemora a visita dos magos ao recém-nascido Jesus. Segundo José Roberto Develar, da PUC-Rio, a tradição diz que um dos magos era negro (africano), o outro branco (europeu) e o terceiro (assírio ou persa), representando, assim, toda a humanidade conhecida na época, que vinha celebrar o nascimento de Jesus como o Deus que não era exclusivo de um único povo, mas o Deus que veio unir todos os povos, sem distinção. Dessa forma, o Dia de Reis nos remete à realidade de um Deus que se deixa adorar por quem quiser se aproximar, pois ele mesmo, ao nascer, já estava dando um passo significativo na aproximação com toda a humanidade.

Na maioria dos países da Europa, o Dia de Reis chega a ser até mais celebrado que o próprio Natal. Lá é no dia 06 que as pessoas trocam presentes, em alusão aos presentes que os magos ofereceram a Jesus.

Agora estou contente. Ah, sim! Claro! Porque o dia 6, Dia de Reis, não significa o fim do natal, mas a sua continuidade na vida. Saem as árvores, apagam-se as luzes, guardam-se as guirlandas e enfeites, mas a realidade de um Deus que ama a todos sem qualquer distinção permanece. Sua presença no mundo permanece. Não são mais necessárias as luzes das celebrações natalinas. Não. O natal agora pode ser celebrado na vida, no cotidiano, quando mantemos o espírito vivo e conectado ao Deus que veio, que vem e que está perto sempre e em todo lugar.

Que a fraternidade típica do natal, a magia de criança, e a coragem de buscar o Rei recém-nascido expressa pela atitude dos magos que buscam a Jesus para adorá-lo e presenteá-lo, permaneça viva e colorida em nossas atitudes, olhares e intenções em cada um dos dias que se somarão a este por todo o ano. E mesmo com as luzes que enfeitavam casas e ruas apagadas, deixemos que a luz da Vida brilhe intensamente em nosso ser!

Agora já posso desligar as luzes e guardar minha árvore!

Escrito por: Wanderley Mattos Jr.

segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

Lula, Bonner e Padre Marcelo


O que é que três personalidades tão distintas têm em comum: o nosso presidente da República, o apresentador do telejornal mais conhecido do país, e um padre-pop-cantor?

OK, você tem três chances para chutar uma resposta:

a) Os três são brasileiros (hmmmm, fraquinha essa! – vamos tentar outra...);
b) Os três são corintianos (sem comentários... – pula essa. Próxima!);
c) Os três são as pessoas mais confiáveis do Brasil segundo pesquisa do DataFolha (“Quê?! Tá me gozando?!”, talvez você diga... E eu respondo: “To não!”. É isso mesmo!).

Claro que os pouco mais de 11.000 brasileiros que foram entrevistados de 14 a 18 de dezembro do ano findo não refletem uma opinião conjunta do país, mas revelam algumas coisas. Entre elas, arrisco algumas, fruto da minha (pouco)fértil imaginação noturna...

Confiamos nos simpáticos! O Lula é simpático (ah... vamos lá, independentemente de você gostar dele ou não, concordar com seu governo ou não, você não pode negar, companheiro... Afinal, “Ele é o cara!”, disse o Obama!), o Bonner também (especialmente quando está tudo bem com a Fátima e a última notícia do JN é boa, assim o “Boa Noite” não sai com voz de missa de sétimo dia), e por falar em missa... igualmente, o Pe. Marcelo (seja você católico carismático, da libertação, do terço bizantino, evangélico, espírita, ou seguidor de seus próprios passos, você tem de admitir, ele está sempre sorrindo). Mas entre todos eles eu ficaria com a Ivete Sangalo (que além de simpática, é linda e canta pra caramba!) que não está entre os três mais confiáveis, mas chegou perto: ficou em 5° lugar, logo depois do Roberto Carlos que, diga-se de passagem, deve cantar melhor que Lula e o Bonner e... o Pe. Marcelo! Mas, enfim, parece que simpatia e confiança caminham juntas. E esses três campeões de confiança falam coisas que as pessoas gostam de ouvir: sejam as metáforas otimistas do Lula chamando tsunami de marolinha, as boas notícias do Bonner ou as preces do Padre Marcelo, todos comunicam coisas importantes para o nosso bem-estar.

Passemos a outro item, e este mais sério! Parece que o povo brasileiro está embasando sua confiança em três setores da vida: política, notícia e religião. Bom, dizem que religião e política não se discute. Ah, e futebol também não. Bom, sobre futebol eu não discuto mesmo. E quem me conhece sabe bem por quê! Mas política e religião dão boas (ou más) notícias! E são tema de discussão do Bonner. Portanto, o Lula e o Padre Marcelo têm de tomar cuidado com o que vão dizer daqui pra frente porque se o Bonner ficar sabendo, conta tudo no JN, bem antes de dizer “boa noite”!

O mais interessante é que tanto a política, quanto a informação e a religião são instrumentos poderosos de manipulação de massas. Um palanque inflamado por um político mal intencionado, uma notícia dada de maneira tendenciosa ou uma manipulação religiosa bem feita pode levar um monte de gente à ruína. E leva mesmo. Não estou questionando a idoneidade de nenhum dos três (nem da Ivete... muito menos!); longe disso. Mas como é sério pensar que é justamente nos âmbitos político, informativo e religioso que o povo mais espera encontrar verdade. Então, que Deus nos livre da má política e dos maus políticos. E nos ajude a ser críticos, a pensar, a guardar o que é dito e feito na memória e lembrar disso diante da urna logo mais. Que Deus nos livre das informações distorcidas, do poder manipulador da mídia, de sermos telespectadores acríticos diante de tudo o que a TV quer nos convencer de que é verdade. Aliás, não existe notícia neutra, nem nesta, nem naquela emissora. Toda notícia é narrada a partir da perspectiva e valores de quem a divulga, via de regra, não sem alguma intenção. E que Deus nos livre de todo tipo de manipulação religiosa, seja esta católica, evangélica, espírita ou de qualquer sorte. Quanta loucura, tormento e insensatez é gerada nas aglomerações dos recintos religiosos (pequenos ou imensos, tanto faz) quando o que se prega não é fruto da verdade e sinceridade no íntimo, mas do desejo sórdido de manipular em benefício próprio, seja para engordar a conta bancária ou o ego.

Lula, Bonner e Padre Marcelo não são apenas pessoas que ocuparam os três primeiros lugares (nessa ordem) na pesquisa. São muito mais. Eles representam entidades, organismos, grupos, conglomerados muito maiores que o espaço que ocupam como pessoas públicas. São mais do que eles mesmos. São mais até do que o papel que representam. Eles são o topo visível de instituições que influenciam diretamente a vida do nosso povo. Portanto, não é apenas neles que temos de prestar atenção, mas em tudo o que eles representam.

Confiar é uma necessidade primária para vivermos de maneira tranqüila (já estava com saudades do falecido “trema”... que bom vê-lo por aqui!) e sadia. Mas a confiança não pode prescindir da crítica, nem se esquecer da memória! Aliás, deve ser por isso que as cinco pessoas menos confiáveis da pesquisa, ocupando o 23° ao 27° lugares, foram FHC, Itamar Franco, José Sarney, Edir Macedo e, por último, Fernando Collor: quatro ex-presidentes e um religioso... só faltou um jornalista... mas aí, quem é que iria dar a notícia?!

“Boa Noite!”

sexta-feira, 1 de janeiro de 2010

O que há de novo no ano novo?


Minha amiga sonhou comigo outra noite e disse que, em seu sonho, ela conheceu a ONG para a qual eu presto serviços como tradutor como se fosse uma senhora. A Tia! Tia não é o nome da ONG. Mas é como ela se chamava no sonho! E era uma pessoa. A Tia era uma senhora simpática de cerca de 60 anos. Eu pensei: “Puxa, eu trabalhei o ano inteiro pra Tia e nem a conheço. E você a encontrou no meu – ooops! – no seu sonho!”. Os sonhos não são fantásticos!? Eles transformam organizações em pessoas, com corpo, rosto, idade e personalidade. Mas isso não é privilégio dos sonhos. Fazemos isso (sonhando-)acordados!

Um exemplo disso é o ano novo. Conhece?! Sempre simpático, bonito, cheio de boas intenções. Por ele colocamos nossa melhor roupa, ou fazemos uma festa para comemorar sua chegada. Alguns viajam por horas e horas para estar com ele. Reunimos amigos, fazemos ceia, festa, celebrações, orações, mandamos e-mails, torpedos, fazemos telefonemas. E dessa forma desejamos aos nossos queridos que eles se dêem bem com esse sujeito bonachão mas meio desconhecido: O Ano Novo.

Como no sonho da minha amiga, a virada da folhinha (ou melhor, a folhinha nova – e eu já pendurei a minha todo contente!) se transforma numa entidade, num ser - e com tudo que um ser tem: personalidade, caráter, autonomia. Temos expectativas em relação a ele: que ele seja um Bom Ano, que ele não nos decepcione, que nos ajude a melhorar: “Ah, eu prometo que este ano eu vou melhorar no.......................... (e você pode preencher o espaço pontilhado com seu alvo de mudança acreditando que, pelo ano ser novo, sua disposição também é nova e que tudo vai dar certo!).

Mas será verdade mesmo? O que há de novo no Ano Novo? Nada! Porque ele não existe! Não há uma força cósmica que zere o nosso contador, apague os nossos erros, mude a cor do nosso saldo bancário, crie uma nova pessoa que se encaixe como uma luva no ano novo. Mas, o que pode haver de novo no ano “novo” se tudo é basicamente igual? Atitude! Aliás, a sua atitude. Não existe tal pessoa chamada Ano Novo, como não existe a tal Tia, que a minha amiga encontrou no sonho. O que existe é o desejo de concretizar sonhos, de realizar coisas, de fazer, de construir, de tornar realidade. E só uma pessoa pode fazer isso: você!

Ao final deste ano, cerca de 3 horas e 15 minutos antes da “virada”, eu olhei pra trás e numa conversa gostosa com o Criador do tempo eu agradeci. Agradeci por todos os 365 dias que eu estava deixando para trás. Agradeci pelas pessoas que passaram pela minha vida, pelas que se aproximaram, pelas que permaneceram, pelo sustento, pelas alegrias e pelas tristezas e pelo resultado de ambas em mim. Agradeci pelo saldo (não o bancário, mas o pessoal): positivo! O ano foi bom?! Não! Nem foi mal. Porque o ano não existe como ser. Quem existe sou eu. E Deus também existe. E na sucessão de dias, embalados para presente numa caixa de 365 unidades que se esgotaram ontem, vi e agradeci pela bondade dele em cada dia, tanto nos bons, quanto nos ruins. E disse: “To aqui! Continuo contando contigo para o próximo ano! Vamos estar ainda mais juntos! Não vejo a hora de começar!” E assim, adiantado em três horas para os fogos da Paulista, comecei meu ano novo pensando: "atitudes novas"!

Mal saí de lá, já percebi que as atitudes novas não surgem no céu como os fogos de artifício. Não! Aliás, nem os fogos surgem por vontade própria. Demandam esforço... De quem os faz, de quem os compra, de quem se arrisca em soltá-los presenteando a inúmeros desconhecidos com uma beleza inigualável que parece eterna ao longo dos súbitos 2 segundos de magia!

Passei na casa de uma amiga e juntos fomos fotografar os fogos da Paulista. Mas bem longe de lá. Há anos eu queria fotografá-los. Ano passado o fiz, na praia. Este ano fiquei em Sampa. Então, a oportunidade de fotografar os fogos chegou. Recebi até uma encomenda: “Olha, quero ver as fotos e depois fazer um quadro para colocar na parede da minha casa”, disse esperançoso um amigo ao telefone. Lá fomos nós buscar o lugar elevado e amplo de onde, com minha velha máquina mecânica eu havia fotografado o skyline da cidade muitos anos atrás. Mas o lugar não havia mais. Estava fechado. Após andar muito pelo bairro do Jardim São Bento, na zona norte da cidade, achamos um bom ponto de observação. Lá já estavam quatro pessoas a postos para observar o espetáculo. Armei meu tripé com ares de profissional mas... bem, das 56 fotos tiradas apenas uma ficou mais ou menos... Esta que está aí pra você conferir! Mas isso não importa, o que importa foi abraçar desconhecidos desejando um feliz ano novo, foi observar o comportamento solidário e afetuoso do nosso povo, foi partilhar a companhia, foi fazer algo que eu desejava, foi enfrentar a possibilidade (concretizada) de garoa e mau tempo para fotografar, foi fazer diferente, foi a atitude! Atitude que custou estar lá e não em outro lugar, de estar com algumas pessoas e não com outras. Atitude em buscar o lugar encontrado quase que por acaso, quando já estávamos ao ponto de desistir. Atitude em não me importar com as fotos frustradas. Atitude em celebrar a vida com a qual Deus nos presenteia generosamente.

Hoje pela manhã, li um texto que me foi dado por uma vizinha, como mensagem de ano novo. E no texto, dizia o poeta... “Para ganhar um ano novo que mereça este nome, você, meu caro, tem de merecê-lo, tem de fazê-lo novo (...). É dentro de você que o Ano Novo cochila e espera desde sempre”. É isso! O que há de novo no ano novo? Somente aquilo que você tornar, ou deixar que se torne novo.

O ser humano anseia pelo novo. Anseia por um novo que lhe seja dado, que lhe seja externo, que lhe venha pronto. Difícil é produzir o novo. Renovar. Inovar. Fazer de novo, e de novo, e de novo... até que o novo verdadeiramente surja.

Meu olhar para o ano novo é de expectativa. Não no ano, mas no novo! No novo que eu posso fazer se deixar que Deus “re-nove” meu olhar sobre a vida e suas circunstâncias. Por isso, quero o novo. Não apenas o novo que, de maneira simbólica ou mesmo infantilizada esperamos que o ano traga, mas o novo que de maneira concreta eu posso viver. Em sua sabedoria, Jesus disse a um líder religioso: “quem não nascer de novo, não verá o Reino”. É preciso que nasçamos de novo e para o novo. Abertos ao novo. Dispostos ao novo. Pois Deus faz novas todas as coisas, mas há algumas que é você quem tem de fazer.

Não desejo a você um feliz ano novo. Pois, tal como a Tia do sonho da minha amiga, esse tal de Ano Novo só existe no mundo dos sonhos. O que eu desejo é que você faça coisas novas, tenha novas atitudes, nova postura, um novo olhar, nova disposição, perserverança renovada, um olhar novo, uma mente que se renova e, assim, faça, você mesmo, de cada dia de 2010, em parceria com o Senhor do Tempo e da Vida, o NOVO acontecendo o ano inteiro!

Viva o novo para um 2010 feliz!