segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

Correr correndo (Parte I)


Dizem que paulistano é estressado. Tá sempre correndo. Acho que é verdade. Quando eu morava em Londrina ficava inconformado com a tranqüilidade dos automóveis diante do semáforo (bom, eu ia dizer “farol”, mas vai que tem algum carioca lendo isso...). Eles simplesmente não preenchiam todas as lacunas possíveis na rua, formando apenas duas fileiras de automóveis em vez de três! Isso me deixava louco! Então, lá ia eu, “esperto”, “sabido”, paulistano metido a besta, costurar daqui e de lá, até me colocar na "pole position" no grid de largada do próximo farol, quer dizer, semáforo (ou sinaleiro, em londrinês!!) verde!

Tudo lá era tão perto, mas eu não aproveitava. Havia (e ainda há!) um lago maravilhoso na cidade: o Igapó. Que nem era tão longe de casa, mas acho que eu caminhei pouco mais de duas vezes pelo lago. Ao deixar a cidade, 13 anos atrás, pensei: “Eu não soube aproveitar o lago... vou sentir falta”.

É incrível como desperdiçamos o belo em troca da urgência. Deixamo-nos ser sempre tão pressionados pelo tempo, que não notamos o belo onde ele se apresenta, de maneira inusitada. Pois bem, o médico me disse que eu tinha de fazer exercícios físicos. E entre uma lesãozinha aqui, uma preguicinha acolá, nos últimos anos tenho me dedicado a buscar a disciplina necessária para fazer exercícios regulares. E lá vou eu, correr no parque. Correr, aqui, significa: correr devagar alternando com andar depressa! Correr também pode significar uma ou duas – ou três – voltas de bike pelo lago. Gosto do Ibirapuera. Tempos atrás estava eu em Águas de Lindóia. Fora a um congresso e, no fim da tarde, antes do jantar, fui caminhar pela praça central da cidade, projetada pelo Burle. Sabe, o Burle?! O Burle Max! Paisagista de mão cheia ele. Já morreu. Mas eternizou-se nas praças e projetos paisagísticos que criou. Fez uma praça linda em Águas de Lindóia. Fiquei encantado com aquilo: lagos, grama, árvores, patos, crianças, adultos, gente se exercitando, fim de tarde, pôr do sol, coisa típica de interior. Por alguns minutos eu fiz de conta que morava lá. No dia seguinte, marquei encontro com a praça de novo. E lá estava ela, me esperando no horário marcado, linda, brilhante, cheia de vida. E eu andando por suas pistas sinuosas e graciosas. Ao chegar o último dia do congresso senti saudade da praça e fui me despedir. Imaginei como seria bom ter aquilo na cidade onde moro, São Paulo. Imaginei-me desfrutando da mesma beleza e paz que aquela praça me trazia, onde podia caminhar, pensar, conversar com o Criador da Beleza, refletir, relaxar, ficar feliz, tudo de graça e ao mesmo tempo. Mas eu estava indo embora e não tinha como trazer a praça comigo. Trouxe uma foto! Fiz um filme. Mas não era a mesma coisa!

Depois de um tempo fui andar no Ibirapuera. E quem estava lá?! A praça do Burle! Claro!! Havia lagos, grama, árvores, patos, crianças, adultos, gente se exercitando, fim de tarde e pôr de sol, coisa típica de interi... Quê?! Não pode ser!!! Eu não estou no interior, estou na mega-giga-tera-lópole, na paulicéia louca. Aqui não é Águas de Lindóia. Foi aí que eu percebi, que meus olhos se abriram e eu enxerguei. A praça estava ali. Esteve sempre ali, mas eu não notava, não via, e não usufruía. Fiquei feliz! Finalmente tinha minha praça na minha própria cidade! Que bom! Não vou precisar mais me mudar pra Águas de Lindóia pra encontrar a praça (e até parece que eu me mudaria!!!). Então, decidi aproveitar o Ibirapuera e fazer meus exercícios lá. Correr! Lembra, né?! Correr significa andar depressa, alternando com correr devagar. E lá vou eu. Corro, ando, corro, ando, corro, ando. Quando estou passando em frente o lago, olho o lago e digo: “Boa tarde! Hoje estou com pressa, não vou poder conversar! Preciso correr!!”. E sigo correndo. Preciso correr, afinal tenho muito a fazer. E tenho que correr. E corro. Às vezes, corro porque estou com pressa, então fica melhor correr do que andar. E lá se vai o lago. Se o tempo é exíguo, eu o vejo só uma vez – correndo, claro! Se tenho mais tempo, nos encontramos duas vezes – correndo. Porque eu corro. Mas corro correndo. Corro como quem precisa cumprir o exercício. E há tanto para fazer. Não posso parar pra fazer de conta que estou em Águas de Lindóia no parque do Burle. Estou no Ibira, e preciso terminar essa volta correndo, quer andando, pedalando ou correndo mesmo, preciso correr. Que bom que tem o parque. Mas eu preciso correr. Preciso correr correndo...

Um comentário:

  1. ops...Fotos maravilhosas do texto: Correr Correndo (parte I e II)

    C.M.F.

    ResponderExcluir