domingo, 10 de janeiro de 2010

CINEMA: Hanami – Cerejeiras em Flor


O que esperar de um filme alemão, rodado na Alemanha e no Japão, falado em alemão, às vezes em japonês, outras em inglês – com sotaque alemão – ou inglês – com sotaque japonês! Was ist das?!!? Pois em meio a toda essa aparente improbabilidade “Hanami - Cerejeiras em Flor” (Título original: “Kirschblüten – Hanami”, Alemanha, 2008) é um filme profundo, sensível e surpreendente. Toca a alma.

Trudi é uma esposa dedicada, de ascendência japonesa, casada com Rudi há mais de 30 anos. Logo no início do filme (aliás, é assim que o filme começa) ela descobre que seu marido tem uma doença que lhe roubará a vida em pouco tempo. Os médicos sugerem que ela aproveite os últimos dias de vida com ele fazendo algo inusitado, quem sabe uma viagem... Quem sabe ir ao Japão e visitar o filho mais moço, Karl, que mora lá há cinco anos e nunca recebeu uma visita... Quem sabe ir ver os outros dois filhos que moram em Berlim. Quem sabe ela divide essa informação terrível com um dos seus filhos... Assim, Trudi começa viver o dilema de tentar convencer o marido (que é extremamente sistemático) a curtir um pouco a vida que lhe resta sem ter de contar a ele que seu fim se aproxima. Consegue convencê-lo a ir a Berlim, mas no fundo ela queria mesmo era ir para o Japão. Acalentava o sonho de conhecer o monte Fuji e sempre fora apaixonada pelo Butô, dança típica japonesa, que teve de abandonar por amor ao seu marido que não gostava que ela praticasse esse tipo de dança. Acabam indo para Berlim visitar os dois filhos mais velhos que não têm tempo nem muita disposição para estar com eles. E assim vai se desenrolando uma estória belíssima que levanta vários temas: o distanciamento dos filhos, o envelhecimento dos pais, a falta de tempo, as oportunidades perdidas, a seriedade inútil com que se vive a vida, as palavras não ditas, os sentimentos não expressos, bem como as palavras ditas que jamais deveriam ter sido pronunciadas. Mas, por outro lado, o filme também trata da ternura desinteressada, da dor que aproxima pessoas, das dores guardadas, da convivência com quem se ama sem se conhecer bem, do valor que damos ou negamos a quem amamos, do quanto podemos sufocar o outro ainda que com nosso amor que exige a sua despersonalização.

Assim, esquecemo-nos que o outro, seja ele quem for, tem seu valor, seus sonhos e sua própria personalidade, a despeito de quanto seja ou não amado por nós. Esquecemo-nos de que a vida não oferece garantias. Ela é tão inesperada quanto o vento que não esperávamos que soprasse.

“Hanami - Cerejeiras em flor” é um filme que fala da morte da vida; não apenas da expectativa da morte, mas de deixar que coisas que poderiam estar vivas, morram dentro de nós. Fala de olhos que são capazes de ver o outro sem enxergá-lo em sua inteireza, ainda que amando. Fala do amor que pode ser aperfeiçoado com o tempo e a dor. Fala de generosidade, amizade, cordialidade e obstinação.

Deixe-se levar pela sonoridade de outras línguas, pela fotografia belíssima, por paisagens de outros países e por outras culturas numa viagem para dentro do seu próprio ser e saia do cinema disposto a amar e enxergar as pessoas que estão ao seu redor, enquanto isso for possível!

Uma dica: No Shopping Bourbon (na Pompéia) a sala 10 (não sei se as outras também tem...) possui um sofá enorme após a última fileira de cadeiras de onde você pode assistir ao filme como se estivesse em sua própria sala de estar. Experimente!

E bom filme!

3 comentários:

  1. Adivinha se eu não fiquei doida pra ver o filme???
    Com direito a sofá e tudo mais!!!
    Amei a resenha, Wan.

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  2. Boa dica!É muito enriquecedor assistir um filme que confronta o nosso comodismo e sacode o nosso egoísmo. Você conseguiu partilhar este sentimento com o leitor. Gostei muito!!!

    C.M.F.

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  3. Fomos ver ontem e também gostamos muito, inclusive do sofá. Agora seu post ganha mais sentido e dá vontade de ver de novo.
    Valdir

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