quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

Correr correndo (Parte II)


Correr cansa. Correr cansa mesmo quando você não corre. E tem muita gente que corre parada. Corre porque tem pressa, está tomada pela urgência, enlouquecida pela rapidez, alucinada pelos prazos, pelo tempo, pelas obrigações ou pelo simples costume de fazer tudo correndo – mesmo que esteja sentado.

Já reparou como vivemos apressados? Andamos com pressa, comemos com pressa, vamos ao cinema com pressa, vamos desfrutar do lazer com pressa, beijamos com pressa, amamos com pressa, fazemos tudo com pressa. Até corremos com pressa!

Ontem eu fui correr no parque. Mas ontem tomei uma decisão: vou imobilizar a pressa. Amarreia-a numa árvore e deixei-a agonizando até que ela sucumbisse à inexistência. Dei uma volta de bike, outra correndo (daquele jeito que você já sabe!). Correndo, andando, correndo, andando, correndo, andando. E em meio a tudo isso, ia olhando os rostos, o andar das pessoas, os movimentos dos braços, pernas, mãos, troncos. Tem gente que corre de um jeito engraçado (ainda bem que eu não passo na frente de nenhum espelho, nem das janelas do Museu Afro ou da Bienal - mas se passasse morreria de rir daquele cara que fica olhando para mim toda vez que eu olho para ele, sujeitinho abusado!). Após cinqüenta (olha o trema aí!!! e quem foi que disse que ele era inútil!?) minutos resolvi pegar minha bike e me dirigir como quem pedala num domingo à tarde até o lago. Encontrei um banco vazio, liguei meu iPod (não, meu tocador de mp3 – afinal a Apple não está me dando um centavo para fazer esse merchandising)... Como eu dizia, peguei meu (ah... tocador de mp3 é demais pra mim!)... Voltando, então... Encontrei um banco vazio, coloquei os fones de ouvido, “botei” uma música pra tocar e me deitei no banco. Meus olhos contemplavam o céu cinzento do fim de tarde do horário de verão. Eram 19h53! As pequenas folhas da árvore logo na parte superior do meu campo visual bailavam leves no ritmo gostoso do vento. Os tons, apesar de cinzentos no céu, eram belos. De vez em quando um pássaro voava lá no alto. A música me distraía dos sons das pessoas que passavam correndo, falando, frenéticas ao meu lado. Não as via, nem as ouvia. Ouvia a música. Não apenas a musica que os fones despejavam nos meus ouvidos, mas a música que o vento tocava em meu rosto. Viro para o lado e vejo o lago. Está cinzento, combinando com o céu. Nas árvores, algumas aves já se recolheram e, empoleiradas, esperam o cair da noite e o silenciar dos sons. Em terra firme, próximos à água, patos se reúnem em assembléia para tomar as decisões concernentes aos próximos acontecimentos. E eu nem tenho idéia do que discutem. É coisa de pato! E em negócio de pato, eu não meto o bico. Aos poucos fui me enchendo de paz. A música contribuía para a sensação de alegria. Que privilégio pensar que a poucos metros dali há trânsito, buzinas, pressa, o ritmo acelerado da cidade que não pára. Mas eu estava parado. Parado junto ao lago, à árvore, ao céu, aos patos e pássaros. Parado no tempo. Não estava mais correndo. Consegui parar. Como é bom parar. Parar é preciso. Aquele momento era como oásis em meio ao caos. Aquele momento não foi propiciado por nenhum outro fator exceto o freio que acionei contrariando meu acelerador interno. Pare! Chega de pressa! Chega de correr correndo. Na pressa de ir embora, quase perco o espetáculo que estava passando à beira do lago. Nada demais. Apenas a vida da maneira como deveria ser.

Penso que não deveríamos correr tanto. Não é apenas a cidade que nos desumaniza. Somos nós mesmos. Entramos numa corrida contra o tempo, que no fundo é uma corrida contra nós mesmos. E desperdiçamos o belo, desperdiçamos o tempo, desperdiçamos a vida, tentando viver não como quem vive, mas como quem corre. Não só como quem corre, mas como quem não pára nunca!

Agora me assento e contemplo os prédios ao longe fazendo de conta que não é São Paulo. É qualquer outro lugar. É interior. É vida pacata. É a possibilidade de re-viver sem que o tempo seja um algoz a me perseguir. Levanto-me para observar a reunião dos patos e logo noto uma imensidão de pequenas florzinhas em forma de lampadinhas de natal vermelhas e brancas. A vegetação se estende ostentando aquelas pequenas lâmpadas criadas pela natureza, vermelhas e brancas, pequenas e finas, mas fortes! Lindas. Dou um passo em direção à pista e quem avisto?! Um beija-flor. Ele também estava encantado com as pequenas flores em forma de lampadinhas de natal. E beija a muitas delas em seu vôo incomparável. Fiquei ali, completamente tomado por aquele instante. Em meio à cidade, uma explosão de natureza, de vida e de beleza, pronta para ser vista, pronta para ser celebrada e percebida por quem tem o dom de parar! Após alguns beijos o beija-flor finalmente se vai, permitindo assim minha despedida daquele instante eterno. Internamente, eu ria. Era como se eu e a o Criador houvéssemos conspirado juntos criando aquele momento. Senti-me presenteado. Subi na magrela e deixei aquele quadro pintado em minha memória, eternizado nas fotografias da minha lembrança, clicados num instante de prazer e privilégio.

Aprendi que quem corre correndo não chega a lugar algum. É preciso parar. Correr também é preciso. Mas é preciso parar e contemplar a vida que corre devagar, em seu próprio ritmo, ocultando belezas sem fim dos que não tem tempo para parar de correr. Mas que se esmera em revelar aos audaciosos que param a riqueza de sua beleza escondida no tempo, descortinada a quem se atreve a parar e contemplar o fluir da vida.

São 20h02 e nem sequer 10 minutos se passaram. E eu achei que havia visitado a eternidade...

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

Correr correndo (Parte I)


Dizem que paulistano é estressado. Tá sempre correndo. Acho que é verdade. Quando eu morava em Londrina ficava inconformado com a tranqüilidade dos automóveis diante do semáforo (bom, eu ia dizer “farol”, mas vai que tem algum carioca lendo isso...). Eles simplesmente não preenchiam todas as lacunas possíveis na rua, formando apenas duas fileiras de automóveis em vez de três! Isso me deixava louco! Então, lá ia eu, “esperto”, “sabido”, paulistano metido a besta, costurar daqui e de lá, até me colocar na "pole position" no grid de largada do próximo farol, quer dizer, semáforo (ou sinaleiro, em londrinês!!) verde!

Tudo lá era tão perto, mas eu não aproveitava. Havia (e ainda há!) um lago maravilhoso na cidade: o Igapó. Que nem era tão longe de casa, mas acho que eu caminhei pouco mais de duas vezes pelo lago. Ao deixar a cidade, 13 anos atrás, pensei: “Eu não soube aproveitar o lago... vou sentir falta”.

É incrível como desperdiçamos o belo em troca da urgência. Deixamo-nos ser sempre tão pressionados pelo tempo, que não notamos o belo onde ele se apresenta, de maneira inusitada. Pois bem, o médico me disse que eu tinha de fazer exercícios físicos. E entre uma lesãozinha aqui, uma preguicinha acolá, nos últimos anos tenho me dedicado a buscar a disciplina necessária para fazer exercícios regulares. E lá vou eu, correr no parque. Correr, aqui, significa: correr devagar alternando com andar depressa! Correr também pode significar uma ou duas – ou três – voltas de bike pelo lago. Gosto do Ibirapuera. Tempos atrás estava eu em Águas de Lindóia. Fora a um congresso e, no fim da tarde, antes do jantar, fui caminhar pela praça central da cidade, projetada pelo Burle. Sabe, o Burle?! O Burle Max! Paisagista de mão cheia ele. Já morreu. Mas eternizou-se nas praças e projetos paisagísticos que criou. Fez uma praça linda em Águas de Lindóia. Fiquei encantado com aquilo: lagos, grama, árvores, patos, crianças, adultos, gente se exercitando, fim de tarde, pôr do sol, coisa típica de interior. Por alguns minutos eu fiz de conta que morava lá. No dia seguinte, marquei encontro com a praça de novo. E lá estava ela, me esperando no horário marcado, linda, brilhante, cheia de vida. E eu andando por suas pistas sinuosas e graciosas. Ao chegar o último dia do congresso senti saudade da praça e fui me despedir. Imaginei como seria bom ter aquilo na cidade onde moro, São Paulo. Imaginei-me desfrutando da mesma beleza e paz que aquela praça me trazia, onde podia caminhar, pensar, conversar com o Criador da Beleza, refletir, relaxar, ficar feliz, tudo de graça e ao mesmo tempo. Mas eu estava indo embora e não tinha como trazer a praça comigo. Trouxe uma foto! Fiz um filme. Mas não era a mesma coisa!

Depois de um tempo fui andar no Ibirapuera. E quem estava lá?! A praça do Burle! Claro!! Havia lagos, grama, árvores, patos, crianças, adultos, gente se exercitando, fim de tarde e pôr de sol, coisa típica de interi... Quê?! Não pode ser!!! Eu não estou no interior, estou na mega-giga-tera-lópole, na paulicéia louca. Aqui não é Águas de Lindóia. Foi aí que eu percebi, que meus olhos se abriram e eu enxerguei. A praça estava ali. Esteve sempre ali, mas eu não notava, não via, e não usufruía. Fiquei feliz! Finalmente tinha minha praça na minha própria cidade! Que bom! Não vou precisar mais me mudar pra Águas de Lindóia pra encontrar a praça (e até parece que eu me mudaria!!!). Então, decidi aproveitar o Ibirapuera e fazer meus exercícios lá. Correr! Lembra, né?! Correr significa andar depressa, alternando com correr devagar. E lá vou eu. Corro, ando, corro, ando, corro, ando. Quando estou passando em frente o lago, olho o lago e digo: “Boa tarde! Hoje estou com pressa, não vou poder conversar! Preciso correr!!”. E sigo correndo. Preciso correr, afinal tenho muito a fazer. E tenho que correr. E corro. Às vezes, corro porque estou com pressa, então fica melhor correr do que andar. E lá se vai o lago. Se o tempo é exíguo, eu o vejo só uma vez – correndo, claro! Se tenho mais tempo, nos encontramos duas vezes – correndo. Porque eu corro. Mas corro correndo. Corro como quem precisa cumprir o exercício. E há tanto para fazer. Não posso parar pra fazer de conta que estou em Águas de Lindóia no parque do Burle. Estou no Ibira, e preciso terminar essa volta correndo, quer andando, pedalando ou correndo mesmo, preciso correr. Que bom que tem o parque. Mas eu preciso correr. Preciso correr correndo...

domingo, 10 de janeiro de 2010

Diversão virtual: Pêndulo de Newton


Clique em qualquer uma das bolinhas com o mouse, arraste e solte. Veja que legal e divirta-se à vontade!

A terceira Lei de Newton diz: "Para cada ação há sempre uma reação oposta e de igual intensidade".

CINEMA: Hanami – Cerejeiras em Flor


O que esperar de um filme alemão, rodado na Alemanha e no Japão, falado em alemão, às vezes em japonês, outras em inglês – com sotaque alemão – ou inglês – com sotaque japonês! Was ist das?!!? Pois em meio a toda essa aparente improbabilidade “Hanami - Cerejeiras em Flor” (Título original: “Kirschblüten – Hanami”, Alemanha, 2008) é um filme profundo, sensível e surpreendente. Toca a alma.

Trudi é uma esposa dedicada, de ascendência japonesa, casada com Rudi há mais de 30 anos. Logo no início do filme (aliás, é assim que o filme começa) ela descobre que seu marido tem uma doença que lhe roubará a vida em pouco tempo. Os médicos sugerem que ela aproveite os últimos dias de vida com ele fazendo algo inusitado, quem sabe uma viagem... Quem sabe ir ao Japão e visitar o filho mais moço, Karl, que mora lá há cinco anos e nunca recebeu uma visita... Quem sabe ir ver os outros dois filhos que moram em Berlim. Quem sabe ela divide essa informação terrível com um dos seus filhos... Assim, Trudi começa viver o dilema de tentar convencer o marido (que é extremamente sistemático) a curtir um pouco a vida que lhe resta sem ter de contar a ele que seu fim se aproxima. Consegue convencê-lo a ir a Berlim, mas no fundo ela queria mesmo era ir para o Japão. Acalentava o sonho de conhecer o monte Fuji e sempre fora apaixonada pelo Butô, dança típica japonesa, que teve de abandonar por amor ao seu marido que não gostava que ela praticasse esse tipo de dança. Acabam indo para Berlim visitar os dois filhos mais velhos que não têm tempo nem muita disposição para estar com eles. E assim vai se desenrolando uma estória belíssima que levanta vários temas: o distanciamento dos filhos, o envelhecimento dos pais, a falta de tempo, as oportunidades perdidas, a seriedade inútil com que se vive a vida, as palavras não ditas, os sentimentos não expressos, bem como as palavras ditas que jamais deveriam ter sido pronunciadas. Mas, por outro lado, o filme também trata da ternura desinteressada, da dor que aproxima pessoas, das dores guardadas, da convivência com quem se ama sem se conhecer bem, do valor que damos ou negamos a quem amamos, do quanto podemos sufocar o outro ainda que com nosso amor que exige a sua despersonalização.

Assim, esquecemo-nos que o outro, seja ele quem for, tem seu valor, seus sonhos e sua própria personalidade, a despeito de quanto seja ou não amado por nós. Esquecemo-nos de que a vida não oferece garantias. Ela é tão inesperada quanto o vento que não esperávamos que soprasse.

“Hanami - Cerejeiras em flor” é um filme que fala da morte da vida; não apenas da expectativa da morte, mas de deixar que coisas que poderiam estar vivas, morram dentro de nós. Fala de olhos que são capazes de ver o outro sem enxergá-lo em sua inteireza, ainda que amando. Fala do amor que pode ser aperfeiçoado com o tempo e a dor. Fala de generosidade, amizade, cordialidade e obstinação.

Deixe-se levar pela sonoridade de outras línguas, pela fotografia belíssima, por paisagens de outros países e por outras culturas numa viagem para dentro do seu próprio ser e saia do cinema disposto a amar e enxergar as pessoas que estão ao seu redor, enquanto isso for possível!

Uma dica: No Shopping Bourbon (na Pompéia) a sala 10 (não sei se as outras também tem...) possui um sofá enorme após a última fileira de cadeiras de onde você pode assistir ao filme como se estivesse em sua própria sala de estar. Experimente!

E bom filme!

quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

Apagaram a árvore de natal...


Hoje à noite, enquanto eu dirigia pela avenida 23 de Maio fiquei procurando a Árvore do Ibirapuera mas... não a encontrei. Já estava apagada. Poxa, que triste! Acabou o natal! É dia 6 de janeiro, dia de desmontar a árvore e desligar as luzes natalinas que brilharam desde o início de dezembro.

Fiquei a pensar, ora pois... Será que não daria pra prorrogar um pouco mais a Árvore do Ibira? Tava tão bonita! Eu também queria prorrogar as lâmpadas dispostas na minha janela que, quando acesas, à noite, enchem a sala de um ar natalino, de uma alegria pueril. E a árvore, então! Não a do Ibirapuera, que é enorme, mas a minha, que é minúscula, mas cheia de luzes que piscam em diversas combinações aleatórias banhando a sala de surpresas coloridas de encher os olhos. Eu gosto do natal! Além do significado religioso e espiritual, o natal me remete à inocência infantil. Por um pouco de tempo, volto à meninice, ao tempo em que os problemas não existiam, em que tudo era mágico e encantado. A atmosfera, o sabor, o clima de natal me faz bem. Mas, tudo isso acabou. Apagaram a árvore do Ibirapuera. E logo terei de apagar a minha. Porém, ao chegar em casa rebelei-me. E contra todas as convenções, acendi as luzinhas da janela. E acabo de ligar as luzes da árvore de natal. Oras bolas, não quero que o natal termine.

Peraí, isso já está parecendo birra de criança mal-criada. “O natal acabou, menino! Desliga essa árvore!”, poderia ouvir alguém dizer. Mas não ouço, a não ser dentro de mim mesmo, de onde vem a constatação: por quanto tempo resistirei? Por quanto tempo manterei enfeites anacrônicos descompassados com o momento?

Fui, então, conversar com o Dr. Google! Ah, esse cara é sabido! Ele tem resposta pra tudo. Com ele obtive informações interessantes acerca do dia de hoje (que para você que lê talvez seja amanhã, ou depois de amanhã, não importa... mas eu escrevo hoje! Meu dia 6 só vai terminar quando eu for dormir, ainda que já seja, oficialmente 7!). O dia de Reis é uma data cada vez menos comemorada no Brasil, exceto no interior e em vários pontos do Nordeste, que mantêm vivas as tradições recebidas dos europeus e adaptadas à cultura local. Lá se comemora a visita dos magos ao recém-nascido Jesus. Segundo José Roberto Develar, da PUC-Rio, a tradição diz que um dos magos era negro (africano), o outro branco (europeu) e o terceiro (assírio ou persa), representando, assim, toda a humanidade conhecida na época, que vinha celebrar o nascimento de Jesus como o Deus que não era exclusivo de um único povo, mas o Deus que veio unir todos os povos, sem distinção. Dessa forma, o Dia de Reis nos remete à realidade de um Deus que se deixa adorar por quem quiser se aproximar, pois ele mesmo, ao nascer, já estava dando um passo significativo na aproximação com toda a humanidade.

Na maioria dos países da Europa, o Dia de Reis chega a ser até mais celebrado que o próprio Natal. Lá é no dia 06 que as pessoas trocam presentes, em alusão aos presentes que os magos ofereceram a Jesus.

Agora estou contente. Ah, sim! Claro! Porque o dia 6, Dia de Reis, não significa o fim do natal, mas a sua continuidade na vida. Saem as árvores, apagam-se as luzes, guardam-se as guirlandas e enfeites, mas a realidade de um Deus que ama a todos sem qualquer distinção permanece. Sua presença no mundo permanece. Não são mais necessárias as luzes das celebrações natalinas. Não. O natal agora pode ser celebrado na vida, no cotidiano, quando mantemos o espírito vivo e conectado ao Deus que veio, que vem e que está perto sempre e em todo lugar.

Que a fraternidade típica do natal, a magia de criança, e a coragem de buscar o Rei recém-nascido expressa pela atitude dos magos que buscam a Jesus para adorá-lo e presenteá-lo, permaneça viva e colorida em nossas atitudes, olhares e intenções em cada um dos dias que se somarão a este por todo o ano. E mesmo com as luzes que enfeitavam casas e ruas apagadas, deixemos que a luz da Vida brilhe intensamente em nosso ser!

Agora já posso desligar as luzes e guardar minha árvore!

Escrito por: Wanderley Mattos Jr.

segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

Lula, Bonner e Padre Marcelo


O que é que três personalidades tão distintas têm em comum: o nosso presidente da República, o apresentador do telejornal mais conhecido do país, e um padre-pop-cantor?

OK, você tem três chances para chutar uma resposta:

a) Os três são brasileiros (hmmmm, fraquinha essa! – vamos tentar outra...);
b) Os três são corintianos (sem comentários... – pula essa. Próxima!);
c) Os três são as pessoas mais confiáveis do Brasil segundo pesquisa do DataFolha (“Quê?! Tá me gozando?!”, talvez você diga... E eu respondo: “To não!”. É isso mesmo!).

Claro que os pouco mais de 11.000 brasileiros que foram entrevistados de 14 a 18 de dezembro do ano findo não refletem uma opinião conjunta do país, mas revelam algumas coisas. Entre elas, arrisco algumas, fruto da minha (pouco)fértil imaginação noturna...

Confiamos nos simpáticos! O Lula é simpático (ah... vamos lá, independentemente de você gostar dele ou não, concordar com seu governo ou não, você não pode negar, companheiro... Afinal, “Ele é o cara!”, disse o Obama!), o Bonner também (especialmente quando está tudo bem com a Fátima e a última notícia do JN é boa, assim o “Boa Noite” não sai com voz de missa de sétimo dia), e por falar em missa... igualmente, o Pe. Marcelo (seja você católico carismático, da libertação, do terço bizantino, evangélico, espírita, ou seguidor de seus próprios passos, você tem de admitir, ele está sempre sorrindo). Mas entre todos eles eu ficaria com a Ivete Sangalo (que além de simpática, é linda e canta pra caramba!) que não está entre os três mais confiáveis, mas chegou perto: ficou em 5° lugar, logo depois do Roberto Carlos que, diga-se de passagem, deve cantar melhor que Lula e o Bonner e... o Pe. Marcelo! Mas, enfim, parece que simpatia e confiança caminham juntas. E esses três campeões de confiança falam coisas que as pessoas gostam de ouvir: sejam as metáforas otimistas do Lula chamando tsunami de marolinha, as boas notícias do Bonner ou as preces do Padre Marcelo, todos comunicam coisas importantes para o nosso bem-estar.

Passemos a outro item, e este mais sério! Parece que o povo brasileiro está embasando sua confiança em três setores da vida: política, notícia e religião. Bom, dizem que religião e política não se discute. Ah, e futebol também não. Bom, sobre futebol eu não discuto mesmo. E quem me conhece sabe bem por quê! Mas política e religião dão boas (ou más) notícias! E são tema de discussão do Bonner. Portanto, o Lula e o Padre Marcelo têm de tomar cuidado com o que vão dizer daqui pra frente porque se o Bonner ficar sabendo, conta tudo no JN, bem antes de dizer “boa noite”!

O mais interessante é que tanto a política, quanto a informação e a religião são instrumentos poderosos de manipulação de massas. Um palanque inflamado por um político mal intencionado, uma notícia dada de maneira tendenciosa ou uma manipulação religiosa bem feita pode levar um monte de gente à ruína. E leva mesmo. Não estou questionando a idoneidade de nenhum dos três (nem da Ivete... muito menos!); longe disso. Mas como é sério pensar que é justamente nos âmbitos político, informativo e religioso que o povo mais espera encontrar verdade. Então, que Deus nos livre da má política e dos maus políticos. E nos ajude a ser críticos, a pensar, a guardar o que é dito e feito na memória e lembrar disso diante da urna logo mais. Que Deus nos livre das informações distorcidas, do poder manipulador da mídia, de sermos telespectadores acríticos diante de tudo o que a TV quer nos convencer de que é verdade. Aliás, não existe notícia neutra, nem nesta, nem naquela emissora. Toda notícia é narrada a partir da perspectiva e valores de quem a divulga, via de regra, não sem alguma intenção. E que Deus nos livre de todo tipo de manipulação religiosa, seja esta católica, evangélica, espírita ou de qualquer sorte. Quanta loucura, tormento e insensatez é gerada nas aglomerações dos recintos religiosos (pequenos ou imensos, tanto faz) quando o que se prega não é fruto da verdade e sinceridade no íntimo, mas do desejo sórdido de manipular em benefício próprio, seja para engordar a conta bancária ou o ego.

Lula, Bonner e Padre Marcelo não são apenas pessoas que ocuparam os três primeiros lugares (nessa ordem) na pesquisa. São muito mais. Eles representam entidades, organismos, grupos, conglomerados muito maiores que o espaço que ocupam como pessoas públicas. São mais do que eles mesmos. São mais até do que o papel que representam. Eles são o topo visível de instituições que influenciam diretamente a vida do nosso povo. Portanto, não é apenas neles que temos de prestar atenção, mas em tudo o que eles representam.

Confiar é uma necessidade primária para vivermos de maneira tranqüila (já estava com saudades do falecido “trema”... que bom vê-lo por aqui!) e sadia. Mas a confiança não pode prescindir da crítica, nem se esquecer da memória! Aliás, deve ser por isso que as cinco pessoas menos confiáveis da pesquisa, ocupando o 23° ao 27° lugares, foram FHC, Itamar Franco, José Sarney, Edir Macedo e, por último, Fernando Collor: quatro ex-presidentes e um religioso... só faltou um jornalista... mas aí, quem é que iria dar a notícia?!

“Boa Noite!”

sexta-feira, 1 de janeiro de 2010

O que há de novo no ano novo?


Minha amiga sonhou comigo outra noite e disse que, em seu sonho, ela conheceu a ONG para a qual eu presto serviços como tradutor como se fosse uma senhora. A Tia! Tia não é o nome da ONG. Mas é como ela se chamava no sonho! E era uma pessoa. A Tia era uma senhora simpática de cerca de 60 anos. Eu pensei: “Puxa, eu trabalhei o ano inteiro pra Tia e nem a conheço. E você a encontrou no meu – ooops! – no seu sonho!”. Os sonhos não são fantásticos!? Eles transformam organizações em pessoas, com corpo, rosto, idade e personalidade. Mas isso não é privilégio dos sonhos. Fazemos isso (sonhando-)acordados!

Um exemplo disso é o ano novo. Conhece?! Sempre simpático, bonito, cheio de boas intenções. Por ele colocamos nossa melhor roupa, ou fazemos uma festa para comemorar sua chegada. Alguns viajam por horas e horas para estar com ele. Reunimos amigos, fazemos ceia, festa, celebrações, orações, mandamos e-mails, torpedos, fazemos telefonemas. E dessa forma desejamos aos nossos queridos que eles se dêem bem com esse sujeito bonachão mas meio desconhecido: O Ano Novo.

Como no sonho da minha amiga, a virada da folhinha (ou melhor, a folhinha nova – e eu já pendurei a minha todo contente!) se transforma numa entidade, num ser - e com tudo que um ser tem: personalidade, caráter, autonomia. Temos expectativas em relação a ele: que ele seja um Bom Ano, que ele não nos decepcione, que nos ajude a melhorar: “Ah, eu prometo que este ano eu vou melhorar no.......................... (e você pode preencher o espaço pontilhado com seu alvo de mudança acreditando que, pelo ano ser novo, sua disposição também é nova e que tudo vai dar certo!).

Mas será verdade mesmo? O que há de novo no Ano Novo? Nada! Porque ele não existe! Não há uma força cósmica que zere o nosso contador, apague os nossos erros, mude a cor do nosso saldo bancário, crie uma nova pessoa que se encaixe como uma luva no ano novo. Mas, o que pode haver de novo no ano “novo” se tudo é basicamente igual? Atitude! Aliás, a sua atitude. Não existe tal pessoa chamada Ano Novo, como não existe a tal Tia, que a minha amiga encontrou no sonho. O que existe é o desejo de concretizar sonhos, de realizar coisas, de fazer, de construir, de tornar realidade. E só uma pessoa pode fazer isso: você!

Ao final deste ano, cerca de 3 horas e 15 minutos antes da “virada”, eu olhei pra trás e numa conversa gostosa com o Criador do tempo eu agradeci. Agradeci por todos os 365 dias que eu estava deixando para trás. Agradeci pelas pessoas que passaram pela minha vida, pelas que se aproximaram, pelas que permaneceram, pelo sustento, pelas alegrias e pelas tristezas e pelo resultado de ambas em mim. Agradeci pelo saldo (não o bancário, mas o pessoal): positivo! O ano foi bom?! Não! Nem foi mal. Porque o ano não existe como ser. Quem existe sou eu. E Deus também existe. E na sucessão de dias, embalados para presente numa caixa de 365 unidades que se esgotaram ontem, vi e agradeci pela bondade dele em cada dia, tanto nos bons, quanto nos ruins. E disse: “To aqui! Continuo contando contigo para o próximo ano! Vamos estar ainda mais juntos! Não vejo a hora de começar!” E assim, adiantado em três horas para os fogos da Paulista, comecei meu ano novo pensando: "atitudes novas"!

Mal saí de lá, já percebi que as atitudes novas não surgem no céu como os fogos de artifício. Não! Aliás, nem os fogos surgem por vontade própria. Demandam esforço... De quem os faz, de quem os compra, de quem se arrisca em soltá-los presenteando a inúmeros desconhecidos com uma beleza inigualável que parece eterna ao longo dos súbitos 2 segundos de magia!

Passei na casa de uma amiga e juntos fomos fotografar os fogos da Paulista. Mas bem longe de lá. Há anos eu queria fotografá-los. Ano passado o fiz, na praia. Este ano fiquei em Sampa. Então, a oportunidade de fotografar os fogos chegou. Recebi até uma encomenda: “Olha, quero ver as fotos e depois fazer um quadro para colocar na parede da minha casa”, disse esperançoso um amigo ao telefone. Lá fomos nós buscar o lugar elevado e amplo de onde, com minha velha máquina mecânica eu havia fotografado o skyline da cidade muitos anos atrás. Mas o lugar não havia mais. Estava fechado. Após andar muito pelo bairro do Jardim São Bento, na zona norte da cidade, achamos um bom ponto de observação. Lá já estavam quatro pessoas a postos para observar o espetáculo. Armei meu tripé com ares de profissional mas... bem, das 56 fotos tiradas apenas uma ficou mais ou menos... Esta que está aí pra você conferir! Mas isso não importa, o que importa foi abraçar desconhecidos desejando um feliz ano novo, foi observar o comportamento solidário e afetuoso do nosso povo, foi partilhar a companhia, foi fazer algo que eu desejava, foi enfrentar a possibilidade (concretizada) de garoa e mau tempo para fotografar, foi fazer diferente, foi a atitude! Atitude que custou estar lá e não em outro lugar, de estar com algumas pessoas e não com outras. Atitude em buscar o lugar encontrado quase que por acaso, quando já estávamos ao ponto de desistir. Atitude em não me importar com as fotos frustradas. Atitude em celebrar a vida com a qual Deus nos presenteia generosamente.

Hoje pela manhã, li um texto que me foi dado por uma vizinha, como mensagem de ano novo. E no texto, dizia o poeta... “Para ganhar um ano novo que mereça este nome, você, meu caro, tem de merecê-lo, tem de fazê-lo novo (...). É dentro de você que o Ano Novo cochila e espera desde sempre”. É isso! O que há de novo no ano novo? Somente aquilo que você tornar, ou deixar que se torne novo.

O ser humano anseia pelo novo. Anseia por um novo que lhe seja dado, que lhe seja externo, que lhe venha pronto. Difícil é produzir o novo. Renovar. Inovar. Fazer de novo, e de novo, e de novo... até que o novo verdadeiramente surja.

Meu olhar para o ano novo é de expectativa. Não no ano, mas no novo! No novo que eu posso fazer se deixar que Deus “re-nove” meu olhar sobre a vida e suas circunstâncias. Por isso, quero o novo. Não apenas o novo que, de maneira simbólica ou mesmo infantilizada esperamos que o ano traga, mas o novo que de maneira concreta eu posso viver. Em sua sabedoria, Jesus disse a um líder religioso: “quem não nascer de novo, não verá o Reino”. É preciso que nasçamos de novo e para o novo. Abertos ao novo. Dispostos ao novo. Pois Deus faz novas todas as coisas, mas há algumas que é você quem tem de fazer.

Não desejo a você um feliz ano novo. Pois, tal como a Tia do sonho da minha amiga, esse tal de Ano Novo só existe no mundo dos sonhos. O que eu desejo é que você faça coisas novas, tenha novas atitudes, nova postura, um novo olhar, nova disposição, perserverança renovada, um olhar novo, uma mente que se renova e, assim, faça, você mesmo, de cada dia de 2010, em parceria com o Senhor do Tempo e da Vida, o NOVO acontecendo o ano inteiro!

Viva o novo para um 2010 feliz!